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Ranking BGG Sem Viés

Em 2018, Dinesh Vatvani, um cientista de dados fez uma análise bastante interessante, mostrou um viés estatístico no ranking do Boardgamegeek (ou BGG), maior repositório de dados de jogos de tabuleiro do mundo, no qual jogos com índice de complexidade mais alto recebem notas mais altas pelos usuários e, consequentemente, acabam sendo classificados mais alto no ranking de jogos. Ele escreveu um artigo a respeito disto, que você pode ler aqui (e tenho convicção que cheguei a repostar isto à época nas redes sociais que a Romir Play House tinha àquele momento).

Muito embora não exista uma correlação estatisticamente significante entre a complexidade e a nota, claramente vemos que jogos mais complexos “apelam” mais para os usuários do portal, levando a notas médias mais altas, mesmo com uma média bayesiana em funcionamento.

Após esta análise, ele realizou uma regressão corrigindo este viés, ao colocar todos os jogos no mesmo “patamar médio”, chegando a um novo ranking de jogos (veja aqui), no qual Codinomes (ou Código Secreto, de Vlaada Cvátil pela CGE e Devir, por exemplo, aparece em 2º lugar, e não em 38º como no ranking original).

Baseado neste artigo, Markus Shepherd, do site Analysis Paralysis, publicou uma nova e aprimorada análise baseada não mais apenas na complexidade dos jogos, mas observando os demais parâmetros que podem influenciar o viés de notas do BGG, analisando cada um deles individualmente, a saber, complexidade, idade do jogo, tempo de jogo, tipo de jogo e se o jogo é ou não cooperativo, a qual você pode ver aqui.

Além de levar em consideração jogos mais novos (ainda não existia Cascadia, de Randy Flynn pela Flatout Games e Grok Games, quando Dinesh fez sua análise, por exemplo), além de apenas mostrar um resultado, para cada um destes parâmetros, Markus avalia o viés de forma individual, corrigindo o ranking de acordo e criando uma tabela de top jogos “sem” o respectivo viés avaliado.

Algumas destas análises individuais chamam bastante atenção como, por exemplo, a análise eliminando o viés de idade do jogo, também chamado de culto do novo, o que traz novamente para a lista de top 10 antigos detentores do 1º lugar, como Twilight Struggle e Puerto Rico (Andreas Seyfert, pela Alea e Grow), e inclui até mesmo Sherlock Holmes Consulting Detective – Os Assassinatos do Tâmisa & Outros Casos (Gary Grady, Suzanne Goldberg e Raymond Edwards pela Sleuth e Galápagos).

Ranking sem IdadeJogo
1º ( sobe 2)Gloomhaven (2017)
2º (sobe 11)Twilight Struggle (2005)
3º (desce 1)Pandemic Legacy – Season 1 (2015)
4º (sobe 4)War of the Ring Second Edition (2011)
5º (desce 4)Brass: Birmingham (2018)
6º (sobe 145)Sherlock Holmes Consulting Detective (1982)
7º (não se move)Terraforming Mars (2016)
8º (desce 4)Ark Nova (2021)
9º (sobe 36)Puerto Rico (2002)
10º (desce 1)Star Wars: Rebellion (2016)

Outra extremamente interessante é a remoção do viés de complexidade, similar ao feito por Dinesh, mas com jogos mais atuais dentro da análise. Conforme observado por Markus, sem este viés, seis dos 10 jogos na lista top receberam um prêmio do Spiel des Jahres ou do Kennerspiel des Jahres. Dos 4 que não receberam o prêmio, 2 estavam na lista de indicados e os outros dois na lista de recomendados.

Ranking sem ComplexidadeJogo
1º (sobe 141)Just One (2018) – Spiel des Jahres
2º (sobe 127)Codinomes / Código Secreto (2015) – Spiel des Jahres
3º (sobe 45)7 Wonders Duel (2015) – Recomendado
4º (sobe 101)Scout (2019) – Indicado
5º (desce 3)Pandemic Legacy: Season One (2015) – Indicado
6º (sobe 13)7 Wonders Duel (2015) – Recomendado
7º (sobe 30)The Crew: Mission Deep See (2021) – The Crew foi Spiel des Jahres
8º (sobe 71)Azul (2017) – Spiel des Jahres
9º (sobe 117)Patchwork (2014) – Recomendado
10º (sobe 57)The Quacks of Quedlingburg (2018) – Kennerspiel des Jahres

Isto reflete o que Maren Hoffmann, uma das juradas do Spiel des Jahres, comentou em sua entrevista para a Romir Play House recentemente (veja aqui), sobre o prêmio ser feito para as pessoas normais e não os nerds de jogos de tabuleiro, tentando ao máximo encontrar as melhores jogabilidades com mais acessibilidade, objetivo principal do prêmio que é considerado por muitos o maior prêmio de jogos de tabuleiro, e que aparenta estar fazendo seu papel de forma bem coerente e correta segundo estes dados.

Mas Markus vai além, criando um algoritmo no qual todos os vieses individualmente analisados podem ser sobrepostos, criando um ranking geral reparametrizando todos os vieses analisados e chegando a uma lista top completamente diferente do que normalmente vemos, incluindo algumas surpresas e muitos retornos de jogos antigos. Se você quer ver a lista completa, pode baixar aqui.

Ranking sem ViesesJogo
1º (sobe 323)Survive: Escape from Atlantis! (1982)
2º (sobe 772)Can’t Stop (1980)
3º (sobe 326)For Sale (1997)
4º (sobe 15)7 Wonders Duel (2015)
5º (desce 146)Sherlock Holmes Consulting Detective (1982)
6º (sobe 209)Tichu (1991)
7º (sobe 205)Modern Art (1992)
8º (sobe 637)Take 5 (1994)
9º (sobe 316)Lost Cities (1999)
10º (sobe 204)Carcassonne (2000)

Alguns detalhes da análise, porém, devem ser observados. Primeiro, alguns jogos muito longos foram excluídos da análise, como Die Macher e Twilight Imperium, bem como jogos muito antigos como Go e Acquire. Justo a isto, jogos com menos de 30 votos também foram excluídos por ter pouca representatividade, bem como jogos sem índice de complexidade, por não poderem ser avaliados quanto ao viés de complexidade. Alguns destes poderiam ter uma chance de chegar no topo, mas devido a condições de contorno foram excluídos da análise, que pode ser refeita posteriormente incluindo-os também.

E caso você queira se aventurar ainda mais na estatística usada, todo o material está disponível no Gitlab.

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